Psiconeuroimunologia e a Visão Transpessoal

Ciências emergentes

   Os estudos científicos ocidentais e o pensamento de modo geral foram parametrizados na mecânica de Newton e, portanto, por muito tempo, basearam-se no que era considerado visível e quantificável. Graças a alguns cientistas que ousaram a sair do usualmente conhecido e comprovado e que levantaram novos questionamentos acerca de fenômenos excluídos do rol da ciência foi que surgiu um conjunto de novos conhecimentos denominados de ciências emergentes.

   Para muitos desses ousados cientistas, a compreensão da consciência e das energias sutis requer a abertura de espaço para o estudo de fenômenos ainda inexplicáveis e de suas correspondentes leis. E foi um desses novos estudos que levou à descoberta das partículas elementares dos átomos e ao surgimento da hoje conhecida Física Quântica.

  Segundo Camarotti (2015), os princípios da Física Quântica tornam mais claros os mecanismos mente-corpo e sugerem que a interação entre o nível bioquímico do corpo e a capacidade da mente de influenciar os sistemas orgânicos pode ser o caminho de compreensão dos fenômenos que envolvem tanto a cura quanto a imunidade relativa aos organismos vivos. A autora assevera que essa nova ciência nos tem mostrado que os seres vivos possuem uma comunicação intrínseca que vai além das leis de interação dimensional tempo-espaço linear. De acordo com esse referencial, a consciência é um princípio organizador, que, ao fazer opções, precipita um evento real. Assim, toda realidade é absolutamente dinâmica em termos de tempo e de espaço, dependendo do olhar do observador, ou seja, a realidade é fruto da consciência da pessoa que observa.

  Pode-se deduzir de tudo isso que a capacidade do ser humano de transformar a si mesmo e à realidade depende absolutamente dele mesmo.

Psicologia Transpessoal

   A Psicologia Transpessoal pode ser definida como uma nova abordagem voltada para o estudo das capacidades e potencialidades máximas do ser humano. Seu fundador, o psicólogo Abraham Maslow, apontava para a existência de duas vertentes de forças que agem a partir do indivíduo. A primeira pode ser considerada um impulso regressivo, gerado por sentimentos negativos, como o medo e a ansiedade, que levam o indivíduo para a doença. A segunda é um impulso positivo, que ressalva os valores essenciais do indivíduo e que o leva para a saúde. Maslow disse que a exploração e o uso pleno dos talentos, das capacidades e das potencialidades tornam o indivíduo mais saudável e satisfeito, e a isso ele denominou de autorrealização (SALDANHA, 2008).

  Ainda segundo Maslow, para além das pulsões de vida e de morte, descritas por Freud, há no ser humano um “aspecto instintoide”, ou uma pulsão de transcendência, que é curativo. Por essa razão, ele também orientou seus estudos para o estabelecimento de uma hierarquia das necessidades humanas, que vão desde as básicas, como a fome e o sono, até as que ele chamou de metanecessidades (inspiradas pela emergência de valores positivos e pelas necessidades de crescimento em direção à unidade cósmica). Concluiu que a frustação dessas metanecessidades ocasiona metapatologias (falta de sentido para a vida), que, por sua vez, podem acarretar doenças as mais diversas (SALDANHA, 2008).

   Para Maslow, as abordagens psicodinâmicas em especial debruçavam-se sobre a metade enferma do ser humano, suas neuroses e psicoses; ele propôs uma abordagem voltada para a outra metade, a saudável. Esse enfoque psicológico contempla o ser humano em suas dimensões física, emocional, mental e espiritual e faz uma síntese entre o cognitivo e o valorativo. (SALDANHA, 2008). Em seus estudos, Maslow observou que indivíduos autorrealizados são os que desenvolveram sua dimensão essencialmente espiritual.

Consciência
Fonte: Depositphotos

  A Psicologia Transpessoal, portanto, envolve a dimensão espiritual, as experiências culminantes (momentos especialmente felizes e excitantes na vida do indivíduo), os estados de expansão de consciência, bem como as metanecessidades e a experienciação no processo educacional, na saúde ou nas organizações.  

  Muitos estudos que antes seriam taxados de não científicos e provavelmente descartados hoje ganham lugar no campo de conhecimento desenvolvido pelas ciências emergentes, dentre as quais se incluem a nova Biologia, a moderna Neurociência e a Psicologia Transpessoal. Todas essas disciplinas estão em franco desenvolvimento e já apontam caminhos para uma maior compreensão dos processos imunológicos e de cura do organismo humano, a partir de correlações entre as funções das áreas cerebrais e fenômenos transpessoais. Em outras palavras, nas últimas décadas, as ciências que se ocupam da saúde estão fazendo grandes reflexões sobre o papel da psique humana no desencadeamento das doenças e nos fatores que envolvem a imunidade.

Psiconeuroimunologia

  A Psiconeuroimunologia estuda a conexão entre o cérebro, o comportamento e o sistema imunológico, bem como os resultados dessa interação para a saúde física e psicológica. A hipótese base deste modelo é que os estressores psicossociais diminuem a eficiência do sistema imunológico, o que leva ao aumento de sintomas médicos (MAIA, 2002). Esses estudos também se debruçam sobre a influência das emoções positivas ou negativas no sistema imunológico, responsável pelas defesas orgânicas do ser humano.

Psiconeuroimunologia
Fonte: Depositphotos

   A neurologista e psiquiatra Henriqueta Camarotti (2015) afirma que devemos contar com nossas potencialidades e capacidades psíquicas, emocionais e neurofisiológicas a fim de superarmos as enfermidades e que todos os indivíduos podem ser elementos proativos de seu próprio processo de viver saudavelmente. A mesma autora cunhou o termo Consciência Autocurativa para referir-se à “capacidade do ser humano de curar-se através de mecanismos naturais, utilizando-se de caminhos não convencionais, de práticas terapêuticas diferenciadas e de estados não ordinários de consciência” (CAMAROTTI, 2015, p. 34). Ela também afirma que o sistema nervoso, além da função básica de autopreservação do ser, tem o potencial para promover a sua autotranscendência.

Patrícia Maciel

 

REFERÊNCIAS

CAMAROTTI, Maria Henriqueta. Consciência Autocurativa: Como utilizar seus mecanismos psicocerebrais para alcançar a cura. Brasília: Editora Kiron, 2015.

MAIA, Ângela da Costa. Emoções e Sistema Imunológico: Um olhar sobre a Psiconeuroimunologia. Disponível em: <http://www.conhecer.org.br/download/IMUNOLOGIA/leitura%20anexa%201.pdf> Acesso em 01.jun.2018.

SALDANHA, Vera. Psicologia Transpessoal:Abordagem Integrativa: um Conhecimento Emergente em Psicologia da Consciência. Ijuí: Unijuí, 2008.