Na quarentena, adote uma criança!

É quarentena, as pessoas se isolam e as crianças ficam loucas trancadas em casa. Choram, gritam, esperneiam. Na verdade, não é de hoje que essas crianças estão por aí, abandonadas. Já estavam pedindo atenção há muito tempo, mas com o barulho e a correria do dia a dia era fácil ignorá-las.

Agora a pandemia nos força a parar. Faz tudo silenciar e o barulho dessas crianças abandonadas se torna ensurdecedor. E parece que não tem ninguém ali para cuidá-las. E agora, quem poderá nos defender?

Não, nada de Chapolim Colorado, nem de outro herói mais moderno. Nada de olhar para fora em busca de soluções, quando a resposta que realmente importa está dentro de nós.

Que tal aproveitar que o mundo parou e você não pode descer para escutar o que a sua criança abandonada vem tentando te dizer? Se você ainda não o fez, essa é uma oportunidade incrível para cuidar da criança que mora dentro de você e aprender muito com ela!

É, aquela criança que você foi um dia… que era feliz, que se encantava facilmente até com o mais simples da vida, que era criativa e conseguia se divertir com qualquer coisa. É, essa mesma criança que também foi ferida. Que por circunstâncias reais ou por sua interpretação infantil não recebeu todo o amor que desejava. Que se sentiu abandonada e rejeitada. Que achou que não era boa o suficiente. Que acreditou que seus cuidadores eram divinos e se machucou ao tropeçar em sua humanidade, suas limitações.

É, essa criança que está sempre aí do seu lado. Que muitas vezes faz birra, esbraveja, chora desconsolada. E que você, adulto que é hoje, tenta silenciar, sem nem se preocupar em entender o por quê dessas reações desproporcionais.

Sei que é difícil achar espaço na agenda entre tantas preocupações de adulto para ouvir o que a sua criança está tentando lhe dizer. Para acolhê-la e acalmá-la. Para mostrar que ela não está mais sozinha, pois há um adulto que a protege: você!

Mas já imaginou passar todo esse período de quarentena com uma criança gritando e chorando dentro da sua casa? Desesperador, não é? E passar toda a sua vida com essa criança gritando e chorando dentro de você?

A situação que estamos vivendo é difícil de maneiras que ainda não conseguimos nomear ou mesmo imaginar. Mas ela será impossível se não dermos ouvidos aos gritos da criança ferida em nós. É dela que vem parte do desespero que estamos sentindo nesse momento. E é essa parcela de preocupação que está em nossas mãos mitigar. A preocupação decorrente dos fatos não. A parte desproporcional, sim.

Não deixe a sua criança ferida sozinha nesse momento tão difícil. Cuide dela. Mostre a ela que já não importa quão difíceis tenham sido as experiências pelas quais ela passou, pois, de agora em diante, ela estará bem cuidada e acolhida pelo adulto que você se tornou.

Aproveite o isolamento social forçado para se reconectar com você mesmo. Inclusive com as partes que mais doem e assustam.

Na quarentena, adote uma criança: a sua! Só assim será possível saborear a solitude, ao invés de sofrer com a solidão!

Paula Coury

sobreasaseraizes.com